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Teorema da Flutuação–Dissipação


O teorema da flutuação-dissipação (FDT) é um princípio fundamental na mecânica estatística e na termodinâmica. Estabelece uma ligação profunda entre flutuações aleatórias em um sistema em equilíbrio térmico e sua resposta a perturbações externas. Essa conexão é essencial na ligação da física microscópica com fenômenos macroscópicos, proporcionando uma ponte entre interações detalhadas ao nível atômico e respostas observáveis em sistemas.

Conceitos básicos

Vamos decompor o teorema da flutuação-dissipação passo a passo para entender seus principais aspectos. Em essência, o teorema pode ser expresso da seguinte forma: A resposta de um sistema em equilíbrio termodinâmico a uma pequena perturbação externa pode ser prevista a partir das propriedades do sistema e da forma como ele flutua quando não perturbado.

Essa declaração pode parecer abstrata, então vamos usar uma analogia para esclarecer esses conceitos de forma mais intuitiva. Imagine um lago de água perfeitamente calma. Se você jogar uma pequena pedra no lago, ela criará ondas que se propagam para fora. Mesmo no estado calmo, as moléculas de água estão constantemente fazendo pequenos movimentos aleatórios ou flutuações devido à energia térmica. As ondas representam a dissipação de energia introduzida pela perturbação da pedra.

pedras no lago

Agora, considere um sistema físico como uma barra de metal. Mesmo em repouso, os átomos na barra estão em movimento constante, vibrando e interagindo através de forças eletromagnéticas. Essas flutuações não são óbvias a olho nu, mas são muito reais e estão sujeitas ao movimento térmico governado pela temperatura do ambiente.

Formulação Matemática

O teorema da flutuação-dissipação pode ser expresso matematicamente usando funções de correlação e funções de resposta. Vamos introduzir os termos necessários:

  • Função de correlação: Essa função, geralmente escrita como C(t), descreve como as variações de uma variável em relação ao seu valor médio são correlacionadas ao longo do tempo.
  • Função de resposta: Frequentemente denotada como R(t), mede a mudança em uma quantidade observável em resposta a uma perturbação externa.

Para a teoria de resposta linear, a relação entre essas funções é expressa como:

R(t) = -Theta(t) frac{dC(t)}{dt}
R(t) = -Theta(t) frac{dC(t)}{dt}
    

Aqui, Theta(t) é a função degrau de Heaviside, que garante a causalidade, significando que a resposta em qualquer momento depende apenas das perturbações aplicadas no passado, não no futuro.

Exemplo prático

Exemplo 1: Ruído elétrico em resistores

Um exemplo clássico do teorema da flutuação-dissipação é o ruído de Johnson-Nyquist em circuitos elétricos. Considere um resistor em um circuito. Devido à agitação térmica dos portadores de carga (elétrons), uma pequena flutuação de tensão ocorre através do resistor mesmo quando nenhuma corrente é aplicada. De acordo com o FDT, o espectro desse ruído de tensão está diretamente relacionado à resistência do material e à sua temperatura.

S_v(f) = 4k_B TR
S_v(f) = 4k_B TR
    

Aqui, S_v(f) é a densidade espectral de potência do ruído de tensão, k_B é a constante de Boltzmann, T é a temperatura absoluta, e R é a resistência elétrica. A equação mostra como o ruído (flutuações) em um circuito pode dar informações sobre as características (dissipação) de um resistor.

Exemplo 2: Movimento Browniano

Outro grande exemplo pode ser visto com o movimento browniano, que é o movimento aleatório de partículas suspensas em um fluido. Considere uma partícula microscópica suspensa em um fluido. A partícula experiencia impactos aleatórios das moléculas do fluido, fazendo com que se mova aleatoriamente.

O momento é caracterizado pela constante de propagação D, e através da relação de Einstein para propagação e mobilidade, temos:

D = mu k_B T
D = mu k_B T
    

Isso mostra que a dispersão (flutuação) da partícula está relacionada à mobilidade (resposta a forças) e à temperatura, demonstrando o FDT.

Visualizando os altos e baixos

Partículas Brownianas

No exemplo visual acima, o pequeno retângulo simboliza uma partícula Browniana que se move devido aos efeitos invisíveis das moléculas do fluido.

Relação com o equilíbrio termodinâmico

Para que o teorema da flutuação-dissipação se aplique, o sistema deve estar em equilíbrio termodinâmico. Nessas situações, o balanço detalhado e a simetria de reversão temporal se aplicam. Essas condições garantem que as propriedades derivadas das flutuações também descrevem como o sistema responde a influências externas.

Suponha que um gás seja mantido em uma câmara selada. Quando uma variável, como a pressão, é momentaneamente alterada, retorna ao equilíbrio. A maneira como retorna ao estado estacionário reflete suas características de dissipação.

Além das respostas lineares

Enquanto o FDT clássico lida com respostas lineares, próximas ao equilíbrio de sistemas, extensões foram desenvolvidas para situações não lineares e longe do equilíbrio. Essas teorias estendidas continuam encontrando uma variedade de aplicações, embora possam ser matematicamente complexas.

Aplicações em vários campos da ciência

O FDT é mais do que apenas uma teoria limitada à física teórica. É uma teoria aplicada em muitos campos, incluindo meteorologia, neurociência, ecologia e até finanças para modelar flutuações e prever comportamentos com base em observações empíricas.

Exemplo: Climatologia

Cientistas usam modelos analógicos de sistemas climáticos inspirados pelo FDT para entender a sensibilidade climática e a resposta aos impactos antropogênicos. Esses modelos usam flutuações em variáveis climáticas, como a temperatura, para estimar respostas futuras de mudanças climáticas.

Exemplo: Neurociência

Na neurociência, o FDT é usado ao investigar a transmissão sináptica em redes neuronais. Entender a atividade neural espontânea pode fornecer insights sobre como as redes cerebrais respondem a estímulos.

Conclusão

O teorema da flutuação-dissipação continua sendo um elemento crucial em nossa compreensão da física, ligando as flutuações microscópicas às dissipações macroscópicas. Destaca a beleza e a consistência das leis naturais, permitindo previsões sobre sistemas complexos a partir de princípios básicos. Suas aplicações vão além da física convencional, impactando uma variedade de campos científicos e confirmando seu papel fundamental em conectar o entendimento entre escalas e sistemas.


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